Fiquei pensando no tênis desgastado da Balenciaga vendido por dez mil reais. Roto, sujo, aparência de ter sido usado nos últimos três carnavais do Icaraí. Mas, a despeito disso, ainda caro, inalcançável ao bolso do vulgo pagador de impostos, principalmente se brasileiro. A ruína comercializada, o passado plasmado em artefato consumido por grife de luxo e posto em circulação restrita. O velho não é apenas velho, é exclusivo. Como se se pagasse também pela memória que o objeto carregaria, ao menos em intenção. O tênis da marca espanhola tem experiência sem ter tido de fato, entra no circuito com estatuto de peça de museu, um desses signos que remetem a civilizações antigas, encontrados em escavações num país qualquer de um continente distante. É como uma mensagem distópica. À falta de futuro, fabricamos o pretérito. Daí o nome da estética: “destroyed”. De tudo, séries e filmes atuais disponíveis nos serviços de streaming, do fim do mundo ao apocalipse zumbi, é o produto de massa cuj
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)