Difícil é compreender, não compreender mas aceitar, digamos compreender e aceitar a trajetória ordinária de todas as coisas que se movem, movem e respiram, movem, respiram e amam, não necessariamente nessa ordem. Caspas de galáxias, piolhos teoréticos, lêndeas de deuses incontornáveis, embora o zoológico seja composto unicamente por espécies vindas sabe-se quem de onde, quando, por quê, não custa apontar que, esquecidas todas as variáveis criacionistas, deístas ou o que sejam o que achamos que sejam, o que resta são possibilidades poucas, quase ralas, possibilidades que escorrem rápidas com o tempo, rápido. Uma coisa ou outra, ir ou ficar, querer ou dispensar, aqui, ali. Há limites, há final, há ponto de chegada e de saída, decisões constroem-se e nos constroem num passe de mágica. Sem mágica. A vida é mágica sem mágica. É vida. De repente, há dois filhos lindos, esposa amorosa, prestações e o peru de Natal para adorar. Atravessando o espaço, há a energia escura, indevassável.