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Mostrando postagens de agosto 14, 2017

O tal letreiro

Eu passei por ele e lembrei que é bem ali onde as turmas de formandos se reúnem para fazer fotografias segurando os nomes dos cursos de graduação e o ano em que estão concluindo. É um lugar apropriado para fincar a bandeira do marco, estabelecer um ponto zero e começar seja lá o que for, desde que represente uma virada na sua vida, uma página que fica pra trás ou coisa que o valha. Pois foi exatamente lá, perto da estátua da Iracema, que apareceu da noite pro dia o letreiro CEARÁ com letras coloridas dispostas como numa lâmina de apresentação para dizer coisas óbvias. Caso alguém vá passando e não tenha tanta certeza de onde está, um turista ou mesmo um desavisado, a placa cuida em informar: CEARÁ. Letras alegres, dançantes, como a explicitar cabalmente nossa vocação para a alegria. Um reconhecimento tácito de nossa felicidade. Um clichê tipográfico e afetivo. E enterrado na praia, como uma placa de vende-se em Jeri. Letreiro estranho. O nome inscrito na orla pede que a g

Noite

De fato é como tentar recuperar movimentos perdidos, os dedos batucando palavras que eu tinha esquecido. Agora estou aqui e escrevo. Não faço ideia, não quero pensar e não posso supor que uma história consiga eliminar tudo isso. Eu só quero e penso em contar uma mesma história. É agosto, afinal. Estive doente nos últimos quatro dias. E vocês sabem como são os homens quando adoecem, ficam profundamente dramáticos. Então estava assim, com a garganta inflamada e dores fortes na cabeça me sentindo parte de um círculo de horror. Passei duas madrugadas acordado revendo filmes e assistindo a séries sobre mortos-vivos porque era assim que me sentia, um espírito vagando em casa, abrindo a geladeira a cada meia hora pra tomar água e se hidratar, do contrário não ficaria bom. Até que foi passando e eu fiquei bem mas continuo achando que as coisas que sentimos mais dramaticamente não passam com um copo d’água nem com noites mal-dormidas.

Agosto

É agosto, mês de ventos. A gente bota a cabeça na janela e tudo acontece. Tem sido difícil andar de bicicleta. O vento contra na ida e a favor na volta. Subir é mais difícil e descer, mais fácil. Pedalar contra o vento. Descer a favor do vento. Mais lento e mais rápido ao mesmo tempo. Duas experiências. Na praia ando pra lá e pra cá, vou até o final, que é a igreja. Paro e olho lá pra dentro imaginando outras tantas vezes em que parei ali e olhei e não vi nada porque as portas estavam fechadas. É uma igreja simpática, pequena, azul e branco, como um barco parado. Tenho vontade de rezar, mas não rezo. Não é zelo. Apenas não quero. Penso em sorvete, uma casquinha dupla de tangerina e qualquer outro sabor. Não paro.  Aumento o volume e a mensagem diz que posso danificar a audição. Aumento assim mesmo. Um homem passa com uma caixa de som na cestinha da bicicleta. Está lá sempre nos fins de semana. Já cruzei com ele outras vezes. Por que escuta música tão alta? Passa s