A vida segue alvoroçada como nos primeiros tempos, mas talvez já não seja necessário dizer isso porque, depois de tudo, até as constatações se repetem, os sustos são parecidos, as surpresas também, de modo que repetir é menos um hábito do que uma necessidade. Repetir é uma maneira que cada pessoa encontra de, não encontrando nada, convencer-se de que o que está vendo tem pele e osso, é real, verdadeiro. Repito: o tempo é um animal estranho, arredio, doméstico, mítico no que tem de impalpável. A gente se assusta, sempre por razões diferentes, e o tempo é uma delas. O tempo com o que tem de agonia e salvação. Passa, encolhe, retorna, mente, aclara, escurece. Ontem mesmo tive a impressão de que parecia antes de ontem e amanhã talvez acorde com a certeza de que é outro dia. Sempre é outro dia, digo a mim mesmo.
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)