1. Uma garota rente ao palco sacode o corpo vestido de Cleópatra, está sozinha e para apenas de vez em quando, saca o celular da bolsa e canta, dirige-se à tela como se a outra pessoa, declama versos a plenos pulmões de uma música que fala de amor de carnaval, desencontros etc., uma temática clássica no vaivém passional de qualquer festa, sobretudo esta, ainda mais agora, o último fim de semana do pré, no ar uma certa urgência quase impositiva, mas ela não faz nada além de cantar e dobrar-se sobre si mesma, os movimentos lentos como se acionados remotamente por outra pessoa, ela habitando esse corpo enquanto a garota real está em casa e fantasia com hipóteses de felicidade. 2. A seu lado uma mulher mais velha, talvez 60 anos, salta ritmadamente nos dois pés quando a banda manda essa canção de um grupo de lambada muito antigo, quem sabe se lembre de quando ainda tinha a idade que tenho agora e num baile como aquele dançou exatamente como hoje, mas com mais energia, de tempos em
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)