Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de fevereiro 24, 2019

Três instantâneos de carnaval

1.  Uma garota rente ao palco sacode o corpo vestido de Cleópatra, está sozinha e para apenas de vez em quando, saca o celular da bolsa e canta, dirige-se à tela como se a outra pessoa, declama versos a plenos pulmões de uma música que fala de amor de carnaval, desencontros etc., uma temática clássica no vaivém passional de qualquer festa, sobretudo esta, ainda mais agora, o último fim de semana do pré, no ar uma certa urgência quase impositiva, mas ela não faz nada além de cantar e dobrar-se sobre si mesma, os movimentos lentos como se acionados remotamente por outra pessoa, ela habitando esse corpo enquanto a garota real está em casa e fantasia com hipóteses de felicidade. 2.  A seu lado uma mulher mais velha, talvez 60 anos, salta ritmadamente nos dois pés quando a banda manda essa canção de um grupo de lambada muito antigo, quem sabe se lembre de quando ainda tinha a idade que tenho agora e num baile como aquele dançou exatamente como hoje, mas com mais energia, de tempos em

Um parágrafo

Eu me encolho de frio, a cerveja muito gelada, a banda como um desses grupos animando festa escolar, por todo lado gladiadores de telenovela ruim e odaliscas de desfile militar, aqui e ali uma “laranja” a pedir os votos de felicidade a alguém que não conhece, também um guarda de trânsito, os fetiches de sempre, portanto uma mulher com chicote, um homem com espada, uma nuvem de arco-íris, logo uma roda que se alarga e depois recolhe, as fantasias encharcadas, então dois índios passam e acenam pedindo duas caipirinhas e o músico anuncia que é a última da noite antes de se despedir apresentando a banda, e cada integrante se empenha nesse gesto final, solando na bateria ou no baixo ou na guitarra e fazendo sinais positivos de cabeça aos gritinhos da plateia que implora finalmente por mais uma depois que já não há tempo para nada, afinal estamos nesse teatro e chove muito desde as sete horas da noite, quando ainda mourejava no trabalho escrevendo sobre política sem qualquer gosto por tudo a