Toda casa tem um cheiro, é como uma pessoa. Essa foi a grande descoberta da minha infância. Os amigos liam quadrinhos e viam filmes de caratê, eu pedia licença antes de entrar na sala dos outros e aspirava o ar demoradamente. Uma tinha cheiro de cozinha, comida recém-preparada, temperos, óleo, fritura. Outra, de construção, reboco, cimento, tinta fresca, solvente. Todas eram diferentes da minha, cujo odor não podia distinguir. Se casas são pessoas, quando estão próximas de mais, a gente se acostuma com o cheiro e passa a não diferenciar. Como a gente é parte dele, ninguém sabe ao certo qual o cheiro que tem. Mas a casa dos outros é diferente. Eu, por exemplo, gostava muito do cheiro da casa dos meus primos, que misturava roupa lavada e café. Na casa do Luciano, predominava o cigarro que a mãe fumava e na do Rafael, um amaciante característico, forte o bastante pra ser sentido do lado de fora. O Anderson, um amigo mais velho, tinha cheiro de graxa, gasolina e pneu – a casa e e
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)