Cada vez que diz, a gente morre. Quando não diz também. Cada vez que falseia, mas quando autentica também. Sempre que revela, mas omitir também é morrer. Morre dormindo e acordado, amando e amado. Odeia, morre. Ama, idem. Morre se foi feliz, se foi infeliz também. Morre se evitou que outros morressem, morre se ajudou a matar. Morrer é irrevogável, sabê-lo é indiferente. Morre por ignorância, morre por conhecimento. Morre quando se evita e quando se procura. Ora, a gente morre, e ponto final. Morre na hora certa. Morre no cinema, na sauna, no colo da mãe, na parada do ônibus. Morre fora de hora. No sexo, na cama, subindo uma escada. Que coisa estranha é morrer. Mais estranho ainda é que se não acostume com isso.
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)