A foto de uma dessas palmeiras mirradas em fila indiana na Beira Mar me fez lembrar daquela árvore de copa gorda, opulenta, a árvore da infância, à sombra da qual a gente inventava brincadeiras, do cai no poço à forca, do desenho à adivinhação das paixões de meninice. Nada como a árvore da calçada da casa do tio, que servia de referência para os encontros da noite, em reserva, um anteparo natural e bloqueio à vista de quem passava pela rua, alongando a curiosidade em procura de matéria-prima para as fofocas de depois. Ou a do pátio da escola, uma castanhola muito antiga, tão antiga que não a víamos como algo de fora, mas de dentro, em redor da qual púnhamos o grupo a jogar o que fosse, futebol, vôlei, pião, o tronco repleto de marcas e recados, repositório de declarações feitas a giz ou caneta, tal como um livro. Penso nisso, nas histórias que uma árvore carrega, no tempo que leva para crescer, na maturação demorada, nos jambeiros e cajueiros, nas mangueiras e goiabeiras, e de repente
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)