A novidade, não sei exatamente se nova, é fotografar a paisagem natural ou humana e apor, como notinha de rodapé não irônica (ao menos a priori): "sem filtro". Isto é, sem intervenção, sem manipulação, sem truques de prestidigitação. As coisas como realmente são: uma manhã de céu azul (sem filtro), um sorriso (sem filtro), uma garrafa de cerveja na mesa (sem filtro), os dois pés descansados sobre o tamborete tendo ao fundo as dunas arrastadas grão a grão pelo vento aracati - maravilhosamente sem filtro. O “sem filtro” pretende atestar algum nível de sinceridade menos óbvia, funcionando como um selo de autenticidade semelhante ao afixado em alimentos orgânicos, de modo que, à beleza da situação, acresce dizer, como forma de ajuntar inegável valor ao produto: sem agrotóxicos. Sendo assim, o orgânico está para os alimentos como o não filtrado está para o real: a cereja do bolo. Indo um pouco além, é possível enxergar no conceito de "orgânico" uma n
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)