A mãe está feliz porque súbito os filhos chegam um a um, todos novamente reunidos pela primeira vez desde o início da pandemia. Saímos de casa e agora dividimos a mesa no café da manhã. Ocupo o braço do sofá, a irmã a soleira da porta, o pai a quina da mesa, o irmão está a caminho, mas deve chegar logo, vem de moto, de onde não se sabe, mas avisou pelo Whatsapp que não demora mais e que o aguardássemos para o café. Mas antes, mesmo quando eu não tinha chegado ainda, a mãe já se servira do bule e do pão e do cuscuz e do queijo, é seu aniversário e pode ditar as regras, fazer como quer, banquetear-se sem leis ou preocupações com diabetes ou a pressão alta, mas sem exageros, eu lhe direi depois, no que ela assentirá sem tanta confiança. Bato na porta, toco a campainha, entro desajeitado, o pai me abraça antes da mãe, que está sentada e se surpreende, de modo que podemos considerar ter cumprido o objetivo de não levantar qualquer suspeita quanto à chegada de cada irmão. Um do leste, ou
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)