Três dias se passaram. Vivemos numa praia distante, a vila de pescadores como se desocupada às pressas. As nuvens de chuva despencando sobre o mar produzem um único tom de azul muito escuro que cria formas avulsas. Imagens náufragas. Nessas formas vejo baleias, anzóis, um corpo de mulher feito num único traço, as linhas de uma história que se enrosca muito tempo atrás. Uma década transcorre e afunda, outra mais se consome e depois vai a pique. Nada no mar permanece o mesmo. É noite. Ando sozinho até o muro branco que separa a pousada da areia. Uma construção pequena, também solitária, administrada com delicadeza por Liduína, uma mulher ainda jovem. Talvez 45 anos. É bonita, um olhar afogueado, o vestido de chita que também está noutros detalhes da decoração, como um motivo, uma repetição que dá pistas de alguma coisa. Venta bastante para esta época do ano, digo. Ontem pensei que o telhado se desprenderia , mas a conversa morre num segundo . De repente a sensação de já ter
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)