E o livro que encontra na estante ao acaso antes de dormir é este que tem poemas como facas que cortam o ar, poemas como massas e gestos suspensos, poemas como se me pedissem para contar o primeiro pensamento da infância. Poemas todos criados por uma força que se agrupa no mais baixo do ventre e no mais alto da cabeça e no mais fundo dos olhos. Poemas contra a leveza. Letras e sinais gráficos e depois as conjunções adverbiais são as primeiras a afundar quando atiramos tudo ao mar, arrependidos que estamos do que dissemos e escrevemos. E agora resta somente rasurar à espera de que esta outra história se firme no papel, e depois festejar o prumo e a sombra que projeta. Esse livro que ela traz até aqui carregado nas mãos como bicho morto encontrado à beira da estrada a quem o criador pedisse que fosse até o mais longe para enterrar porque ele não tem mais nem forças nem recursos - esse livro é um engano. Então partimos madrugada adentro feito estivéssemos num cont
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)