Descubro que a palavra que me deu era outra. Não uma vaga, não qualquer uma, mas agora. Disse “agora”, tratou de explicar enfatizando sempre o caráter de urgência, pondo mais acento numa sílaba e arregalando os olhos. É agora. Agora entendia, falou como se dissesse: cuide disto, cuide deste tempo, pense neste momento. Perdi tantas coisas na vida, falou, a voz de repente mais baixa, mas sem perder serenidade. Perdemos todos, repeti. Era um cortejo de derrotas, perdas, poucas conquistas, mas havia sempre esse agora. Esteja preocupado, não tenso, mas de olho neste instante que passa. O agora que escapulia. Tinha dificuldade de pensar no momento, de plantar sementes e esperar que brotassem de imediato. Ou talvez o agora fosse o contrário de plantar, apenas semear sem a necessidade da espera, só atirar às lavouras e depois ir sem olhar pra trás. Quem sabe não fosse como andar de bicicleta numa ladeira, a facilidade de mover-se adiante, o impulso de cortar o excesso de realida
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)