Em breve estaremos todos na rua de volta, mas sem um item essencial com que já tinha me acostumado e mesmo afeiçoado. A máscara. Saberemos viver sem ela? Nesses dois anos, acompanhou-nos a todo canto, foi uma companheira sem igual, suportando o hálito diário sem reclamar. Da manhã à noite, mascarados, respirando vapores que embaçavam os óculos, cantando ou falando sem sermos percebidos, bodejando ou rindo intimamente, de si para si. Apenas a máscara segredava, ciosa do que trazíamos ali numa conversa mais muda que falada. A máscara escondeu tanto quanto protegeu nesses tempos de pandemia. Foi um alívio tê-la em alguns momentos, quando pôr-se atrás do pano ajudava a aguentar o dia, deixando para os olhos a responsabilidade por toda expressão. Olhos cansados de tanto falar, de tanto carregar a comunicação de uma vida por todo o tempo de confinamento e trabalho remoto. Para tudo e para nada nos olhávamos mais no olho, e isso era um ganho, mas também uma perda de energia, uma atividade e
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)