Pensei num balanço da quarentena, coisas que aprendi (nada) e também coisas que imaginei que aprenderia no curso desses pouco mais de 100 dias de confinamento, quando supus, ainda em março, que tudo não levaria dois meses e logo estaríamos de volta. Duplo engano. Tanto a exclusão consumiria bem mais tempo, quanto o processo em si de estar em casa por longas horas não seria como um mergulho em si mesmo, uma volta às origens ou mesmo uma oportunidade para aprender jardinagem ou francês. E, no entanto, julgo que, a despeito de tudo, houve mesmo uma reconexão com algo cuja natureza não sei qual é, mas do qual me sinto próximo, como um primo que esbarra num familiar muitos anos depois de um único contato na infância e o reconhece pelas características físicas comuns – uma sobrancelha arqueada, a calva, os braços longos ou uma maneira especial de fingir-se estranho. De maneira que, embora saiba que nesse dias e semanas que se passaram eu tive momentos de uma franca conversa com essa matéria
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)