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Mostrando postagens de novembro 10, 2018

Dançar é sorte

A vida tem movimentos. Coisas básicas, como na dança. Um passo pra lá e outro pra cá, um ritmo lento que demarca o deslocamento. Ciclos, essas coisas. Ora isto, ora aquilo. Tem gente que recorre às ondas ou à conformação das nuvens no céu para entender o que se passa afinal, o que de fato acontece quando a vida se põe a rodopiar. É um mistério o fato de que certas coisas aconteçam, e, acontecendo, se deem dessa maneira e não de outra, ganhando essa cara e não aquela. Por exemplo: um dia, nesta hora, noutro lugar, sob certa luz etc. Um pra lá e outro pra cá. Como na dança, às vezes mais empurrados que conduzidos, mais presos ao chão que flutuando. Não sei por que cargas d’água comecei a pensar nos movimentos. Talvez porque hoje seja sábado, um dia bom pra dançar. Não sou dançarino nato. Eu engano. Estudo atenciosamente os corpos e os gestos, em seguida tento imitar, acrescentando alguma característica minha, algo que talvez pareça ridículo mas que, visto com um pou

Um homem velho

É triste mas não tanto o modo como fui lentamente deixando de lado este blog, que, descontados os hiatos causados pelo que se chama de “motivo de força maior”, já tem 13 anos. Ou seja, pouco mais de uma década registrando cada bobagem que lia ou fazia. Quando comecei, tinha 24 e estava no primeiro casamento. Havia largado a faculdade de Letras no 7º período e começado a estudar jornalismo. Agora tenho 38 e vivo o segundo casamento. Tenho uma filha, que colore e avaranda os dias. Voltei a estudar literatura. Todavia, penso nesse estirão de tempo. Treze anos. Meu deus. Eu era outra pessoa. Quando falo que era outra pessoa, estou dizendo que era literalmente outra pessoa. Fisicamente o mesmo, mas um outro sujeito. Meu primeiro escrito aqui data de algum mês de 2005. Bom, isso não é pra ser nada como a história de David Copperfield: eu nasci, eu cresci (um abraço, Holden!). É mais como um espanto: puxa, esse tempo passou. A vida é alguém apressado apertando seguidam

Pedaços

Abro o arquivo e nele vou encontrando pedaços de textos, fragmentos de reportagens e trechos de artigos, coisas avulsas que fui juntando ao longo deste ano que é ele mesmo um amontoado de cacos. Cada texto o mosaico de outros. Sobreposições, é como chamo. Não soltos, entendam. Os textos se costuram uns aos outros como pessoas numa festa dançando a mesma música. Cada uma pensando um pensamento diferente, mas todas presas ao mesmo fio. É esse fio muito fino que enreda todo mundo, um novelo discreto, comunidade de fatos aleatórios interligados por coisas diminutas: um cheiro, um jeito de sorrir, uma predileção. Nada especial.   P escreve perguntando se passei a acreditar em Deus. Eu respondo que não, que é apenas um modo de fantasiar a vida, nem mais nem menos interessante que qualquer outro. P, a desconfiada. Eu lhe falo que hoje pela manhã um pensamento passou a se comportar estranhamente e a exigir certa atenção, como essas crianças que se fingem de mortas para que