Não sei se já observaram uma goteira. Como se forma, os desenhos que restam quando o sol desponta e ela vai embora, a pressa das pessoas em aparar a água tão logo percebem que na casa há um vazamento. Na rua tomam banhos e até se divertem nas biqueiras, mas o ambiente doméstico é sagrado. Nele não se permitem goteiras, que têm qualquer coisa de agourentas. Ou de desleixadas. Primeiro a telha que se afasta. Um gato à procura do cio, um vento mais forte, um soluço da própria casa. Conjunto de fatores casuais que resultam nessa abertura. Depois a chuva, que precisa vir inclinada, como a pedir licença para entrar. Permitida, vem a goteira. Mas antes é preciso que chova intensamente por curto período ou muitas horas. Num caso como no outro, produz-se a fenda através da qual a água se verte, como sangue quando nos cortamos em regiões pouco irrigadas. Vovó dizia: está minando sangue. E no corpo a parte ferida começava porejar aos bocados. A goteira é a falha da casa, disso to
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)