Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de janeiro 18, 2018

A história das goteiras

Não sei se já observaram uma goteira. Como se forma, os desenhos que restam quando o sol desponta e ela vai embora, a pressa das pessoas em aparar a água tão logo percebem que na casa há um vazamento. Na rua tomam banhos e até se divertem nas biqueiras, mas o ambiente doméstico é sagrado. Nele não se permitem goteiras, que têm qualquer coisa de agourentas. Ou de desleixadas.  Primeiro a telha que se afasta. Um gato à procura do cio, um vento mais forte, um soluço da própria casa. Conjunto de fatores casuais que resultam nessa abertura. Depois a chuva, que precisa vir inclinada, como a pedir licença para entrar. Permitida, vem a goteira.  Mas antes é preciso que chova intensamente por curto período ou muitas horas. Num caso como no outro, produz-se a fenda através da qual a água se verte, como sangue quando nos cortamos em regiões pouco irrigadas. Vovó dizia: está minando sangue. E no corpo a parte ferida começava porejar aos bocados.  A goteira é a falha da casa, disso to

Pedra

É como se desaprendesse. Primeiro tomar a caneta, depois o papel, recitar brevemente a lista de tarefas. Apenas para esquecê-las no primeiro instante. Uma litania da solidão. Então lembrar novamente, agora passando a culpar-se. Afinal, está tudo atrasado, tudo em compasso acelerado, tudo que corre e volta e torna a correr.   Tento. Como se friccionasse duas pedras molhadas na tentativa de produzir fogo. Nada de fagulha, nada de chama. Apenas o som da pedra lascando-se contra a outra, o choque de uma superfície cuja solidez ninguém coloca em dúvida. Tenho inveja da pedra que não se move.