Tio, estou doente, mas só um pouco, respondeu a sobrinha, logo desfazendo o nó que lhe havia crescido na barriga ao ouvir o relato dramático da mãe, na cabeça a sobrinha estava prestes a desencarnar, mas longe disso, podia agora livrar-se apenas por algumas horas do breve incômodo que se apodera das almas sem vínculos e dos corpos flutuantes. Por enquanto, tudo era diferente. Distante da família havia semanas, afundado nos próprios termos, negócios, taras, velhacarias abundantes, uma existência particular, desprendida, a voz da sobrinha então soava plena de vigor, uma raiz de tão forte arrebenta a calçada e cresce tortuosa, a contragosto de todas as horas enfermiças. O mágico cozimento do tempo levado ao afago da avó, da troca de palavras desajeitada com a bisavó, do longo abraço no avô recém-chegado. Tio, repetiu, estou bem, estou apenas brincando, não é pintando, é brincando, ouviu mais uma vez, e sorriu.