Confesso que vi pouco dos jogos de Tóquio. Um salto aqui, um mergulho acolá, a derrota do vôlei de praia e as piruetas douradas da Rebeca Andrade. No geral, estive ausente. Desse pouco que vi, porém, algo chamou a atenção: nossa tara por essas histórias sofridas, de quase fracasso que, na reta final, se convertem miraculosamente em vitórias, algo que parece confirmar um destino mágico que contraria o script de insucesso típico do ser-se brasileiro. Um pensamento mítico guia o torcedor nacional: o de que, na hora H, algo nos fará chegar ali, por esforço, mas também porque a gente já sofreu e apanhou tanto que seria mais do que justo ganhar uma medalha. Como se as vitórias por si não fossem tão interessantes. Sabe como é: treinar em piscina e não em açude, ganhar uma prancha de verdade e ter um patrocinador e não precisar pegar as primeiras ondas empoleirado numa tampa de isopor, ter alimentação adequada no período da preparação e por aí vai. Foi assim que começou a vida do nosso medal
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)