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Mostrando postagens de junho 6, 2023

O nome da comida

Ninguém mais chama a comida de comida, apenas de proteína e carboidrato, reduzindo o alimento a sua funcionalidade como parte de um estratagema cuja finalidade é manter o edifício-corpo de pé. Desse modo, saem o arroz e a carne, o feijão e o macarrão, a farofa de cuscuz e o vinagrete, que dão lugar a uma modernosa terminologia de viés mais técnico, em um uso que escancara a leitura do ato de comer como uma operação mecânica cumprida por autômatos. Não se come mais, mas se abastece, num gesto compensatório de reposição de perdas, tal como um veículo – popular ou não – empregado no dia a dia para tarefas várias, peças do circuito automotivo que o humano incorpora como engrenagens de si. Daí que não se estranhe tanto a similaridade entre a inteligência artificial e o sapiens. Não é que as novas maquinarias tenham apenas se tornado mais capazes, é que nós também cedemos terreno voluntariamente, assumindo de bom grado o elemento postiço como parte de nós mesmos. O bicho humano, a bem da v