E, antes de ir, quero contar sobre como o mesmo livro ou vários livros, quando abertos ao acaso, sempre acabam por revelar o mesmo trecho, como uma depressão em direção a qual uma esfera se dirige ao ser deixada livre sobre a superfície de uma mesa. Uma mesa aparentemente normal, mas que esconde ou disfarça essa inclinação que causa o movimento da esfera, que então rola lentamente e depois para. Do mesmo modo se dá com esse livro hipotético, com esse volume ou esse conjunto de livros que tomamos por acaso enquanto andamos pelo quarto, por exemplo, e temos necessidade de pensar na vida antes de dormir, antes de deitar, de estudar ou mesmo de ler, porque é isso que fazemos ali. E então o dividimos com displicência, e, nesse descuido, o mesmo livro ou um livro diferente abre-se exatamente no mesmo ponto do dia anterior ou de um mês atrás, como se houvesse essa depressão, essa vertigem ou falha que atrai a atenção, que faz a esfera deslizar até lá. Hoje mesmo isso aconteceu comigo, pegue
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)