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Mostrando postagens de setembro 25, 2015

Parágrafo único

Ao final da história, não querer entender nem lutar com o que sabe, dando mais sentido do que carece ou esvaziando o que merece preenchimento. Ao final da história, contentamento, que não é resignação, mas uma escolha que se dobra ao maravilhoso. Ao final da história, nenhum gesto grave nem leviano, apenas o necessário para andar e comer, depois amar, amar antes e comer depois, chorar e mergulhar no mar.  Ao final da história, querer menos, querer mais, sem acordo nem desacordo, apenas mansidão e obediência ao desejo.

Superlua iii

E, nesse maravilhamento, palavra grifada por não existir, dar de cara com a brecha, a fresta, o buraco de coelho em meio ao mar. Então, os cruzamentos fazem sentido ao final, como num filme ruim: lua e sombra, começo e fim, água e terra, gravetos trançados em feitio de casa e a circunferência  gigantesca no céu. A órbita irregular das nossas vidas e o desenho matemático da trajetória previamente sabida do astro que cruza o céu no domingo de setembro. A mesma hora fazendo coincidir lua, sombra, água, corpo e areia. 

Superlua ii

Primeira vez que vi a lua desse tamanho, 2014 ou 2013, fiquei assustado. Lembrei a melancolia do planeta que colide com a terra no final do filme do Lars von Trier, a cabana de gravetos, a mulher e os meninos sentados no chão dando-se as mãos num ato derradeiro. E a proximidade do perigo em direção ao mundo que eles conheciam e do qual em pouco tempo não restaria mais nada. Esperar a lua como quem espera o fim do mundo, o desastre final, esse ato já findo. E maravilhar-se. 

Superlua i

Parágrafo único, desses que resumem em poucas frases uma lei ou encerram um ensinamento que, dada a falta, qualquer falta, precisa se encaixar nas poucas linhas que sobram, as mesmas que adoraria ver esticadas até muito longe, esticadas mas não rompidas, correndo soltas, linhas como se não restasse nem sobrasse nada. Apenas encaixe. A lua vai sair grande e, a meio caminho, encontrará uma sombra, que a encobrirá brevemente, a maior lua dos últimos meses engolida provisoriamente pelo que imagino será a maior sombra também. Uma lua para uma sombra. E a gente sentado ou em pé olhando cada passo da lua movendo-se lenta ao lado do mar de Fortaleza.