A multidão de crianças no estacionamento era febril, quase selvagem. Um grupo de pequenos Hooligans batendo o pé no chão. Menino sujo de sorvete, menina descabelada, pais sobraçando roupas, pingando suor debaixo daquele calor e agradecendo de tempos em tempos as lufadas de ar gelado que saíam de dentro do shopping. Tudo pra quê? Pra ver o Papai Noel chegando, conforme anunciava o jornal, em letras garrafais, uma promessa na qual eu quis acreditar mais do que minha filha, que me perguntou com franqueza se deveria ficar alegre com isso. Menina, não estraga a magia, eu pensei em lhe dizer, mas percebi que se fizesse isso era porque a magia já estava na casa do sem jeito. Fingi desatenção, e deixamos o assunto morrer. No meu tempo Papai Noel não chegava, tampouco era anunciado com dois meses de antecedência. No dia marcado, a gente queria acreditar e acreditava, de modo que o Papai Noel ia embora antes de chegar de fato, sem essa entrada pomposa de cantor popstar. De seu rastro, na melho
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)