Há horas venho pensando nesse planeta perdido no espaço. O mais miserável do universo, imagino, para logo depois corrigir: há sempre alguém em situação pior, seja você um planeta ou uma cuia de chimarrão. Um planeta-vagão esbarrando no que sobra dos cometas, também restos de outras colisões. Não possui uma única estrela a que se agarrar, enroscando seu campo gravitacional ao dela. Não tem um cinturão de asteroides a circundá-lo. Sequer uma lua para usar como brinco. É o verdadeiro Melancolia, eternamente azul e solitário. Um trem fantasma gasoso com seis vezes o tamanho de Júpiter. Pobre animal celeste. Destituído de sistema, satélite artificial e sondas preparadas por inteligência humana. Uma existência sem propósito mais nobre senão o de boiar no vazio pelo tempo que os deuses julgarem necessário. Um vetor a serviço da inércia. Uma materialidade arruinada. Um desperdício químico. Há dias em que a gente se surpreende com a alma avinagrada. Uma vontade imensa de chor
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)