Antes de ontem o mar estava encrespado. Em frente ao Estoril, a antiga Vila Morena, na Praia de Iracema, a ressaca formou um mosaico de matéria orgânica e inorgânica. Restos de embarcações, fragmentos de alvenaria e carcaças de animais foram cuspidos de volta pela força das ondas a despeito da parede de pedras dispostas a fim de conter o bravio das águas. Quem foi ao calçadão viu fragmentos do Mara Hope misturados a conchas e esqueletos de peixes mortos há muito tempo. Viu blocos de cimento, algas e plástico flutuante finalmente aportar em terra depois de meses ou anos navegando pra lá e pra cá. Espalhadas, as peças constituíam um quebra-cabeças de cuja resposta a cidade depende para seguir adiante. É como tentar enxergar na borra do despojo recusado pelo mar algum futuro para Fortaleza. Nele, a depender do que cada um queira pinçar, se pedra, madeira ou coisa viva, o desenho no horizonte se modifica como essas nuvenzinhas que se desfazem mal a olhamos. Minha cidade é
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)