Ao abrir o dicionário ao acaso a primeira palavra que chuvisca na tela é “maléolo”, o que é maléolo?, logo me pergunto fechando o livro já desgastado de tanto uso e atirando-o novamente sobre a mesinha na qual adormecem os jornais da semana, o que pode ser isso, meu Deus?!, finjo excessivo interesse, excessiva concentração, excessiva vibração que se segue à tentativa algo desesperada de intuir, pela simples leitura daquela junção e encadeamento de letras, o que pode querer dizer maléolo, só então formulo teorias, tento significados, busco alternativas, arranjo possibilidades, uma espécie de mal anterior a todos os males que, ao longo da vida, se abatem sobre nós, seres humanos?, uma súbita e irrestrita falta de sentido cuja incidência abraça jovens até 24 anos, mas principalmente crianças entre seis e 12?, uma infecção dos alvéolos pulmonares?, um xingamento, afinal dizer-se “creio que se trata de uma pessoa maléola” soaria como “tenho minhas dúvidas se fulano é realmente um maléolo”,