“O sentimento de estar pleno sem estar pleno é confuso”, questionou a premissa apresentada há pouco pela professora de filosofia enquanto verificava no celular uma mensagem de Luciana do 3º B garantindo que a tarde inteira estaria sozinha, em casa, e que os pais sequer perceberiam a cama amarrotada quando voltassem, de modo que ele, Rafael, 17, poderia considerar agora sem qualquer receio a possibilidade antes remota como algo concreto, que, a depender da vontade de cada um, e a dela parecia irrefreável naquele dia, logo seria executada. “São idéias aparentemente contraditórias”, respondeu a professora, uma mulher de 35 anos, bonita, cansada, vestindo jeans, camiseta, meias de algodão e calcinha larga, confortável, e sutiã de bojo, e relógio grande no pulso esquerdo, o que era uma novidade, concluindo um mestrado, recém-separada, flertando com um colega de trabalho, discutindo com a mãe sempre que lhe perguntavam quando finalmente iria encarar a vida como uma estrada cheia de percalços
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)