Converso com o tradutor, que me fala sobre a verdade. As coisas que dizemos ou não dizemos. Quero perguntar por onde anda a verdade na arte, como buscá-la, de que modo encontrá-la, mas aí já escapo do objetivo da entrevista, o lançamento de um livro clássico que agora ganha uma nova leitura. O tradutor então cita uma autora. Diz que ela entendia essa verdade sobre a qual estamos falando. Mas não entendo. Agora mesmo, por exemplo: se escrevo um punhado de frases, há verdade no que digo? Presumo que sim. Estamos falando da mesma verdade, quero insistir no assunto mas a conversa já se encerrou porque dispúnhamos de pouco tempo. Por horas e horas eu continuaria ali, desajeitado e sem entender que diabos de língua era aquela que eu costumava falar. O tradutor talvez não entenda que essa verdade, uma verdade específica, é o bem mais precioso de quem se atreve a escrever. Nem todos a encontram. Depurá-la pode levar uma vida.
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)