Tenho uma lista de palavras sem as quais a vida talvez seja mais fácil, mais agradável, menos azeda e repetitiva. Em bom cearensês, são termos que já estão fubá, como aquela camisa comprada dois anos atrás e cuja gola se afolozou rapidamente, a manga enviesada que não presta mais. Ou aquela calça de elástico morto, cor de burro quando foge, como dizia a vó. Enfim, um léxico já usado e abusado, seja porque recorremos muito a essas palavras, seja porque, por preguiça mesmo, porque procurar palavras novas é uma tarefa e tanto, a gente se cansou e ficou dando voltas em torno do mesmo sentido, cavando um buraco nas palavras e delas extraindo até a última gota de significado. Daí que resiliência, que já era antiga e gasta em 2016, hoje não tenha quase nada a dizer, salvo em frases feitas ou clichês de propaganda de banco. E reparem que a publicidade de bancos são os cemitérios das palavras. Quando alguma delas figura numa peça com uma menininha e uma atriz consagrada, por exemplo, é porque
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)