Antigamente, era lá onde me refugiava nas tardes quentes e modorrentas: abria-a e, durante algumas horas, transportava-me para lugares cuja paisagem em nada se assemelhava à que tínhamos nos arredores de casa. Homens e mulheres também se distinguiam por seus traços físicos aos de nossa convivência; além disso, havia as vestimentas, túnicas e roupões folgados que lhes cobriam de cima a baixo. Na maior parte das vezes, o sentimento que ditava o rumo de minhas ações era este: o medo. Dos rostos retorcidos, mãos persignadas, anjos desnudos. Via-crúcis pintada por diferentes artistas, todos renascentistas. Jesus Cristo trespassado por uma lança muito comprida; o sacrifício de Isaac; o encontro com Maria Madalena; o retorno à vida de Lázaro. Arrebatado, detinha-me um pouco nas páginas brilhantes cada vez que, resfolegante, o medo dava as caras. O mesmo medo suscitado pelas figuras imutáveis das cartas de baralho, por alienados e mancos de todas as qualidades. Hoje, conto vinte e seis a
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)