Vejo a cena mais uma vez. A primeira-dama aos saltos na sala repleta de gente, muitos sem máscara, persignando-se e agradecendo a Deus pela aprovação de um indicado do presidente para vaga de ministro da Suprema Corte, de cujos aspirantes a membro se exigem notório saber e reputação ilibada, nunca qualquer filiação religiosa. Mas o vídeo sugere o oposto, que o ungido pelo chefe deve parte de sua escolha ao fato de que é evangélico. Mais que isso, que a aprovação é sinal de dádiva alcançada, de graça obtida, e não de cenário em que os interesses parlamentares de oposição e de situação convergem pragmaticamente para o mesmo ponto: o atendimento de pleitos comuns a qualquer senador eleito. A primeira-dama então desanda a “falar em línguas”, que é um modo de tocar o espírito santo recorrendo à “gramática dos anjos”, num jorro desarticulado de sons que, aos que acreditam na mensagem, têm algum sentido cifrado. Em seguida, dá alguns pulinhos e só depois abraça o ungido pelo Messias, já com
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)