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Mostrando postagens de outubro 2, 2011

Um segredo

Ainda sobre a historinha da livraria no sábado, há algo que gostaria de contar. Uma coisa me assombrou, e assombrar é um jeito exagerado de falar, evidentemente. Quando digo "assombrar", quero dizer apenas que algo me surpreendeu tanto que me vi forçado a largar o que estava fazendo, mirar algum ponto distante, como uma nuvem ou um operário empoleirado no alto de um edifício em construção, e pensar no quanto as coisas não são o que achamos que são. Ou pelo menos não apenas o que achávamos que eram, se me entendem. De todo modo, minha cara de bobo era indisfarçável. Imaginem o seguinte: numa tarde quente dessas de dezembro, um senhor queria muito agradar a sua esposa, que estava realmente chateada com ele por causa de uns gastos extras que o marido andara fazendo no comércio da cidade. Nada especial, apenas excessos de um homem estúpido, mas, como eles eram pobres, a mulher se aborrecera. Então, esse senhor inquieto, mesmo sem saber muito bem o que resultaria de toda aq

Nada há nada lá

Auditório da livraria, Fortaleza, sábado, 17 horas. De pé no centro do palco, o palhaço prepara-se para a árdua tarefa de entreter, por meia hora, cerca de 15 crianças cujas baterias estão com todos os bastõezinhos carregados. Segundo amigos que tiveram filhos recentemente, esses tablets humanoides têm autonomia de 24 horas e só raramente emperram. Pensem nisso com seriedade antes de tomar qualquer decisão. O palhaço não é um tipo imponente. Magricela, veste jaquetinha feita com retalhos de pano coloridos, calça branca de tecido cru e sandálias de couro. A primeira coisa que me vem à cabeça quando o vejo prestes a enfrentar aquela horda de pequenos egos inflamados dispostos em semicírculo é: não queria ser ele. O rapaz não tem mais que um metro e sessenta e cinco de altura. É fácil imaginá-lo num desses shows na Praça Verde do Dragão do Mar, sacudindo-se ao som de uma banda de pífanos. Sorriso engatilhado, pandeiro nas mãos, tamborete sob o pé, o palhaço avisa: se quiserem, a