Voltei a escrever numa brochura, caneta e papel. Letra e tempo. Preciso esperar que minha mão alcance o pensamento, que está à frente, penso ligeiro e me demoro a dar comigo mesmo. Quando nos encontramos, estamos em ritmos diferentes, modos diferentes de sentir o sentido. É aí quando paro e penso no tempo de que precisamos para que algo aconteça. A escrita se efetive. O traço se firme na mão e a mão guie com segurança, e não aos atropelos. Mas agora tudo vai em compasso, espero, a mão espera. Vamos andando ora acelerado, ora mais lentamente, como numa dança, uma coreografia. É um exercício de respiração pela palavra. Escrevo e leio e escrevo. Deixo pra trás, levo adiante. Tinha perdido esse costume, como se diz. Era apenas digitação, a mão desacostumada a batucar as palavras sozinha, a mão direita sobrecarregada. Dividia tudo entre duas mãos que escrevem, todos os dedos empenhados na tarefa difícil de dizer. E dizer tem sido cada vez mais custoso, cada vez mais necess
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)