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Mostrando postagens de março 8, 2022

A torre

  Apenas ontem percebi a torre espichada na orla, um olho de Sauron que se eleva a alturas hiperbólicas e de onde se pode acompanhar a vida de qualquer fortalezense, morador do Montese ou do Carlito, da Beira Mar ou do Joaquim Távora. O ponto mais alto da cidade é esse espinhaço de concreto cuja vizinhança não lhe faz sombra. Em terra de pouca planta e onde árvore é mato, é triste olhar o bicho se esticando verticalmente, engordado com orgulho pelo olhar amatutado de quem passa e espia, o pescoço curvado a ver se consegue dar com o terraço. O último andar, aquele estágio mais distante da linha térrea, lá onde a bola em fenda de fogo varre a nossa terra-média. Houve um tempo em que era o contrário, a vista abarcava o terreiro do vizinho, a curiosidade chegando ao quintal, onde a gente, ainda miúdo, caçava uma peça de roupa, um brinquedo, um cajueiro onde se trepar, uma qualquer diferença entre os nossos e os outros. Os muros, mesmo os mais altinhos, eram transpostos com facilidade, as