Um homem se perdeu no mar. Entrou, não foi mais visto. Aeronaves sobrevoam, dão rasantes, barcos partem em busca de algo que possa levar a um lugar que não existe. O mar não fixa barreiras. Não se pode dizer que afundou, tampouco que está irremediavelmente perdido. A procura leva horas, amanhã será retomada logo cedo. Estarei dormindo ainda quando um grupo numeroso terá os olhos vidrados nas águas. A foto que estampa a reportagem do jornal é de um fim de tarde. Noutro lugar, noutra parte, talvez um casal se beije olhando o mesmo mar. A mesma paisagem repete-se ora como agonia, ora como sereno. Talvez não seja ainda o momento de perguntar quando ele virá. Se virá. E como virá. Inês é morta? Leio a manchete: desaparecido. Mar. Homem. E imediatamente me coloco a reunir sob o mesmo teto o conjunto indistinto de sentimentos que cada uma dessas palavras mobiliza. Um homem extraviado em pleno domingo. Tinha braços e pernas feitos para isso, os músculos metodicamente
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)