Aos domingos acordamos mais tarde certos de
que as horas passarão lentamente. Confiamos nesse ritmo vagaroso, queremos que
o tempo se estenda. Conversamos, e cada história se dilata, cada história é a continuação de outra. Detalhes
e detalhes. Uma frase talvez desse cabo de tudo.
Mas nunca soubemos dizer nada além da falta.
Aos domingos tentamos remover uma mancha da
roupa que nunca sai de fato. Aos domingos levamos o desamparo a passear. Também
aos domingos tomamos mais café e gastamos mais tempo olhando a superfície das
coisas de casa.
Objetos que refletem nossa imagem. Se vamos
passando na cozinha, é a geladeira. Se estamos na sala, é o resto de café. Se no banheiro, naturalmente é o espelho, mas o espelho é falso, tudo que mostra é aceno ao que já foi.
Confiar no borrão esmaecido, na dança de luzes da máquina de lavar, na tela
escura da TV ou numa carta de baralho retirada quando já é noite e estamos muito cansados para decidir sobre qualquer coisa.
Confiar na sorte.
Confiar na sorte.
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