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Mostrando postagens de setembro 4, 2019

Setembro

A comunicação da felicidade é sempre uma tarefa odiosa, dispensável e até certo ponto vergonhosa. Primeiro porque o feliz é um bobo, um ingênuo, alguém a quem bastam as razões mais íntimas e os alvoroços de pequenas vitórias para se satisfazer e decretar solenemente: estou feliz. Ao feliz são indiferentes as grandes tragédias, o abismo político e o esgotamento da vida. É uma condição cujo estatuto é definido, regrado, conhecido. Diz-se de alguém que é feliz, sem a necessidade de lhe perguntar por quê. Apenas é, como se a felicidade fosse atributo pessoal, uma categoria inata da qual algumas pessoas estão providas e outras não. Desse modo, pode-se falar de indivíduos felizes e de outros desafortunadamente infelizes. Talvez por isso sempre tenha preferido o termo contente ao feliz. Primeiro porque o contentamento é da escala do efêmero, é subalterno à felicidade no mundo das palavras nobres, portanto. O contente se regozija momentaneamente porque sabe que esse estado se desfaz

Intimidade

O cearense é antes de tudo um íntimo, um familiar, alguém que mesmo na rua carrega consigo a sala e a cozinha. Bastam dois minutos para que se avizinhe e mergulhe no alheio mesmo sem convite. Entre num Uber, por exemplo. Uma corrida de sete minutos. Deslocamento breve entre dois pontos A e B. No máximo três semáforos e pronto. Tudo pago no cartão. Sem necessidade de trocas mercantis concretas. Mas o que acontece?   Um sutil interrogatório que começa quase sempre com uma observação desinteressada sobre o clima na cidade (frio se está chovendo e quente se parou de ventar), passa pelas condições do asfalto (esburacado, de péssima qualidade), encaminha-se para a “indústria da multa” (o cearense que é cearense de fato sempre acredita em alguma modalidade de indústria cuja finalidade é prejudicá-lo) e deságua em algum aspecto da política atual, seja local ou nacional – o prefeito que não anda na periferia, o governador que não cuida da segurança, o presidente que só fala besteira.