A comunicação da felicidade é sempre uma tarefa odiosa, dispensável e até certo ponto vergonhosa. Primeiro porque o feliz é um bobo, um ingênuo, alguém a quem bastam as razões mais íntimas e os alvoroços de pequenas vitórias para se satisfazer e decretar solenemente: estou feliz. Ao feliz são indiferentes as grandes tragédias, o abismo político e o esgotamento da vida. É uma condição cujo estatuto é definido, regrado, conhecido. Diz-se de alguém que é feliz, sem a necessidade de lhe perguntar por quê. Apenas é, como se a felicidade fosse atributo pessoal, uma categoria inata da qual algumas pessoas estão providas e outras não. Desse modo, pode-se falar de indivíduos felizes e de outros desafortunadamente infelizes. Talvez por isso sempre tenha preferido o termo contente ao feliz. Primeiro porque o contentamento é da escala do efêmero, é subalterno à felicidade no mundo das palavras nobres, portanto. O contente se regozija momentaneamente porque sabe que esse estado se desfaz
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)