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Mostrando postagens de julho 27, 2014

Javier Marías sobre romances

Escrevê-los permite ao romancista viver boa parte de seu tempo instalado na ficção, seguramente o único lugar suportável, ou o que o é mais. Isso quer dizer que lhe permite viver no reino do que pôde ser e nunca foi, por isso mesmo no território do que ainda é possível, do que sempre estará por ser cumprido, do que ainda não está descartado por já ter acontecido ou porque se sabe que nunca ocorrerá. O romancista realista, ou que assim é chamado, aquele que ao escrever segue instalado e vivendo no território daquilo que é e acontece, é o que confundiu sua atividade com a do cronista, a do repórter ou a do documentarista. O romancista verdadeiro não reflete a realidade, mas sim a irrealidade, entendendo por esta não a inverossimilhança nem o fantástico, mas simplesmente o que poderia ter acontecido e não aconteceu, o contrário dos fatos, dos acontecimentos, dos dados e dos feitos, o contrário "do que acontece". Aquilo que "só" é possível segue sendo possível, eterna

Carta

Foi impossível chegar ao final sem querer voltar e reler um trecho qualquer que possa explicar por que as coisas são como são. E é por isso talvez que eu concorde com essa ideia de que toda literatura é de autoajuda de alguma maneira. Encontrar o tempo é uma felicidade. Estou tentando encontrar o meu. Mas a carta não tem nada a ver com isso. Com o meu tempo.  A carta é sobre música e amor. É também sobre essa coisa louca da paternidade. Então, se puderem, deem um jeito de ler. É uma carta bonita , eu garanto.