Digo a P que comecei um caderno de exercícios. Nele vou anotando cada pequeno gesto, fragmentos, pedaços avulsos de ideias. Toda sorte de material inservível que normalmente jogaria fora mas que agora retenho e fixo, decanto e guardo. “Caderno de Exercícios”, anoto mais uma vez, e então lhe entrego um papel a exemplo do que queria dizer, um trecho rabiscado entre uma tarefa e outra. O avesso de um projeto, porque é como se escrevesse ao contrário. P gosta do nome, o que me deixa aliviado. A ela interessa sobretudo a natureza do exercício, não o ato em si, mas a preparação para outra coisa que virá, não a corrida ou o salto ou a escrita, mas o ensaio do que pretendo, seja lá o que for. Então recomenda que passe a registrar nesse caderno não apenas os fantasmas pinçados do baú, mas textos feitos exclusivamente para ele. Sugere que trate o caderno como um Caderno de fato e não uma coisa sem importância. P é sempre assim, metódica e sistemática, um plano de ações para c
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)