Dedos. Dados. Antes da palavra, era o sofá de costas na sala de espera. Antes da palavra, era o quintal cheio de bonecos e lagartas, a folha em branco, a folha riscada, a folha desfolhando-se enquanto na casa ao lado o casal engalfinhava-se. Ela perdeu o sutiã, ele a cabeça. Empurra pra cá, empurra pra lá. No canto, olhava. Antes da palavra, havia as brigas conjugais e os peitos à mostra, as pernas magras e a menina atrás das cortinas, as tias nos banheiros de casa, as meninas da escola, os meninos da escola, as professoras todas apenas uma não era como as professoras todas. Dados, dedos, doze parafusos, dedos, dados, doze parafusos. Conto até trinta e me escondo, vocês correm, não me vêem nem eu os vejo, aonde fomos todos? Conto até doze, conto nos dedos, nos dados. Antes e depois da palavra, o que havia? Antes e depois não cabem aqui, em lugar nenhum, mesmo espremidos e cheios de cuidados, por favor, afastem-se para que eles passem, por favor, dêem licença, por favor, sejam educados
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)