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Mostrando postagens de junho 26, 2008

Do tempo, do it

Dedos. Dados. Antes da palavra, era o sofá de costas na sala de espera. Antes da palavra, era o quintal cheio de bonecos e lagartas, a folha em branco, a folha riscada, a folha desfolhando-se enquanto na casa ao lado o casal engalfinhava-se. Ela perdeu o sutiã, ele a cabeça. Empurra pra cá, empurra pra lá. No canto, olhava. Antes da palavra, havia as brigas conjugais e os peitos à mostra, as pernas magras e a menina atrás das cortinas, as tias nos banheiros de casa, as meninas da escola, os meninos da escola, as professoras todas apenas uma não era como as professoras todas. Dados, dedos, doze parafusos, dedos, dados, doze parafusos. Conto até trinta e me escondo, vocês correm, não me vêem nem eu os vejo, aonde fomos todos? Conto até doze, conto nos dedos, nos dados. Antes e depois da palavra, o que havia? Antes e depois não cabem aqui, em lugar nenhum, mesmo espremidos e cheios de cuidados, por favor, afastem-se para que eles passem, por favor, dêem licença, por favor, sejam educados

C de Coisas com as quais me viro

Gosto de matar, matar leões, leopardos. Tapurus do mato. Gosto de matar loucos engaiolados, quem não gosta? Gosto: antecipar desgraças, afugentá-las, desvencilhar-me dos espinhos, que procurem — Outro destinatário. — Sempre quis aprender a fumar. — Eu também. Gosto: gosto. Encontrar moedas, secar feridas, andar recostado aos muros. No meu sítio crio criaturas crentes, crias do credo nosso. No crepúsculo, crescem e cravam caninos nas crostas do crânio carcomido de quem as criou. Cruzes... O poeta merece ser cremado. Antes, crivado de balas. Gosto: ver filme ruim, filme de vacas, vacas, vacas. Ver filmes ruim desabafa?

Outra coisa

Às vezes tenho engulhos. Sem motivo aparente, eles vêm, instalam-se por uma, duas horas, incomodam e depois se vão, inexplicáveis. Fico um pouco assustado, engulhos sem razão, sem necessidade, apenas por troça, brincadeira, engulhos zombeteiros? Quem sabe. Não entendo nada de engulhos, nada mesmo. Mas engulhos são coisa de mulher grávida, penso. E não sou mulher nem estou grávido — bastaria ter dito apenas “Não sou mulher”, já que homens não podem mesmo engravidar. Tenho engulhos antes de dormir, depois de ter lido algumas páginas de livros e jornais e também após ter visto comerciais na televisão. Ao preencher formulários e apanhar filas, subir e descer escadas, abrir presentes e descascar frutas. Topar com velhos na rua, pontas de cigarro e latas de leite vazias. Vêm quase sempre nessas e noutras circunstâncias, mas também quando não espero sentir o que quer que seja, quando estou sentado no banco da praça ou no trabalho, digitando palavras no computador. Eles vêm. Engulhos são miste