Um brasileiro que retornasse de viagem após dois anos em Júpiter sem receber notícias do próprio país teria grandes chances de ser acometido por uma trombose cognitiva ao não reconhecer nas ruas tudo que aprendeu sobre esse lugar de gente cordata cujo modo de vida a empurra sempre adiante, a despeito das piores condições de trabalho. Ao menor contato com a atmosfera nacional, esse brasileiro alienígena, aclimatado às leis naturais que punham nosso povo sempre com os pés atados ao chão, enfrentaria dificuldades para entender o que se passa. Confuso, nosso cidadão recém-chegado de outro planeta ligaria imediatamente a tevê. Cenas de protestos, avenidas tomadas, carros incendiados, repressão, frases desconexas, autoridades perplexas, cartazes vocalizando bandeiras de todos e de nenhum partido. As conchas do velho cenário de Brasília servindo agora como projetores de um cinema novo, com atores livres dos cacoetes da tradicionalmente caquética escola de dramaturgia tupiniquim fo
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)