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Mostrando postagens de outubro 11, 2021

Apagão, tornados, vulcão: o fim do mundo

  Enquanto escrevo sobre essa ideia de que o fim está perto, falências, explosões, tornados, fenômenos inexplicáveis, tempestades de areia, o surgimento de sinais que parecem bíblicos e remetem ao apocalipse, de repente entra uma mariposa no quarto através da janela aberta. Passa das duas da manhã. A mariposa borboleteia e se desapruma em torno da lâmpada acesa, cai aos poucos, perde altitude exatamente como um avião em parafuso. É finalmente apanhada pelo gato, que havia se esgueirado sem que eu o tivesse visto e, no momento certo, deu o bote. Depois saiu com a mariposa na boca parecendo um longo bigode como o de Nietzsche. Uma visão engraçada e triste, engraçada porque meu gato até hoje não havia capturado nada, mesmo uma barata mais lerda lhe escapa facilmente das garras. E triste porque era uma grande mariposa marrom, de asas farfalhantes e voo irresoluto, caótico, que desenhava no ar figuras geométricas nunca vistas, a primeira que entrara no quarto, quem sabe a última também. E e

A foto de criança

  Eu não queria rir, digo pra minha mãe ao lhe mostrar a foto da criança que fui mais de 30 anos atrás. Nela pareço muito feliz, o sorriso armado de orelha a orelha, vestindo uma camisa de festa de mangas compridas porque era assim que o pai queria me ver. Meu aniversário de cinco anos. Lembro de desfilar com ele me carregando no braço, passando de mesa em mesa no terreno ao lado da casa onde mandou instalar luzes escoradas por estacas debaixo das quais os convidados ficavam sentados esperando a comida, porque num aniversário de criança não se espera outra coisa além de comer. Depois os presentes, retirados das caixas com pressa, um boneco, um avião da Varig que minha madrinha tinha dado. Brinquei com ele por muito tempo, arremetendo e pousando no corredor da casa pequena no bairro onde a gente era vizinho de um radialista que morava num palacete, mas que depois descobri que vivia num imóvel como tantos outros, o nosso é que era minúsculo. A mãe tinha me obrigado a sorrir. Eu não queri