Resolveu anotar tudo, cada atividade. Amanhã começaria algo novo, por exemplo. Depois sairia. Depois leitura e café. Depois um espaço aberto a ser preenchido por qualquer coisa. Nunca a fixação de escrever, registrar cada pormenor e deixar tudo grafado. Como se memorizar o futuro antes de acontecer. Como se controlar o tempo e nisso não estar à mercê do descaminho. Mas tudo também tão volátil, palavras em um caderno, coisas ditas e desditas. Coisas que iam e voltavam. Contra tudo que passa decidiu escrever ainda mais firme, letra em pé, tinta preta. Irrevogável. Escreveu que almoçaria e de fato almoçou, em seguida foi ao mercado e trocou a lata de leite vencida por outra no prazo, tudo antes previsto no próprio caderno de anotações. Ainda a mania de não verificar os dados de validade. Passava por idiota, mas era apenas desatento. Pediu que trocassem. Voltou com outra sacola cheia de maracujás. Era o melhor suco. O travo na bochecha, a acidez bem dosada com certa
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)