Escrevo num interregno, um tempo em suspenso
que não parece tempo nenhum. Hoje, primeiro dia, estive às voltas com horas
vazias, horas cuja consistência carecia de algo que as validasse. Dia e noite
alheados a tudo.
Li,
basicamente. E escrevo agora mais por insistência que por gosto. Passa das onze
da noite, horário em que normalmente chegaria cansado do trabalho e me
esticaria no chão até adormecer vendo televisão. Não tenho sono. Do outro lado
do mundo é madrugada.
O romance fala da separação entre um filho e
uma mãe que se apaixona por um artista. O pai e marido vai embora, atravessado
por uma dor sem nome. O filho o acompanha, a contragosto. Mudam-se para
Brasília, uma cidade que não conheço. Pai e filho estranhando-se, mas cada vez
mais necessitados um do outro para suprir a falta da mãe e esposa. Dois
desenraizados num lugar de seres volantes.
Amanhã sairei mais cedo. Talvez faça sol. Hoje
amanheceu nublado, um tempo frio que não me agrada. Um pano de fundo de
tristeza que recobria tudo. Demorei a levantar e preparar o café. As dores nos
ombros passaram. Banho de mar.
Antes era diferente. Esperava sempre pelos
meses de inverno, de janeiro a maio, quando sentia uma alegria imensa e
gratuita de estar na rua e ver que tudo escurecia.
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