De repente, mas talvez não tão de repente assim, o virtuosismo moral virou pedra de toque das relações nas redes sociais, esse espaço onde cada usuário acorda todo dia disposto a responder a seguinte pergunta antes do primeiro gole de café: por que me ufano de mim mesmo? E, nessa gincana do espírito, tudo se converte em motivo para autocelebração, que, por sua vez, significa a rejeição de um outro a quem o virtuoso se opõe e cujos pecados pretende explicitar, seja com o próprio exemplo, seja atacando-os diretamente. Afinal, não se festeja o próprio ego à toa, mas sempre em relação a outrem, com quem se estabelece uma demarcação e se institui uma fronteira. É-se virtuoso não por si mesmo, mas porque alguém não é. O virtuoso, por razões óbvias, nunca se peja de jogar confetes e atrair o holofote para a própria virtude, fazendo-a maior do que de fato é, sovando-a dia a dia e engordando suas dimensões, como um Godzilla do caráter, um King Kong do bom exemplo. Tudo em suas mãos se molda com
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)