De passagem para deixar um recado, seja qual for, ou um abraço, seja em quem for, e não encontro nem caixa de correios nem alguém que não esteja ocupado checando o redesenho das nuvens ou se o próximo ônibus, aquele que dobra agora a esquina, vai até o shopping. Tentei parar e apertar a mão de alguém que se distraía pensando na corrida espacial e que de repente p arou para apertar não a mão, mas a ponta da orelha de outra pessoa, e ambos tropeçamos e formamos um bolo no chão e esse bolo foi confundido com uma dessas esferas de gravetos e despojos urbanos que rolam de um lado da tela ao outro nas cidades desertas dos filmes americanos. Enquanto cortava pelos do nariz e das orelhas, pela primeira vez senti que podia ser qualquer coisa, um grande ator de teatro, um jogador, um assassino ou só uma bola girando sobre o próprio eixo no meio da rua, mas preferi ser Bill Murray imitando uma grande atriz de cinema morta ainda na década de 1960, talvez setenta. Ninguém reparou ...
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)