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Mostrando postagens de dezembro 27, 2024

Projeto de vida

Desejo para 2025 desengajar e desertar, ser desistência, inativo e off, estar mais fora que dentro, mais out que in, mais exo que endo. Desenturmar-se da turma e desgostar-se do gosto, refluir no contrafluxo da rede e encapsular para não ceder ao colapso, ao menos não agora, não amanhã, não tão rápido. Penso com carinho na ideia de ter mais tempo para pensar na atrofia fabular e no déficit de imaginação. No vazio de futuro que a palavra “futuro” transmite sempre que justaposta a outra, a pretexto de ensejar alguma esperança no horizonte imediato. Tempo inclusive para não ter tempo, para não possuir nem reter, não domesticar nem apropriar, para devolver e para cansar, sobretudo para cansar. Tempo para o esgotamento que é esgotar-se sem que todas as alternativas estejam postas nem os caminhos apresentados por inteiro. Tempo para recusar toda vez que ouvir “empreender” como sinônimo de estilo de vida, e estilo de vida como sinônimo de qualquer coisa que se pareça com o modo particular c...

Atacarejo

Gosto de como soa atacarejo, de seu poder de instaurar desde o princípio um universo semântico/sintático próprio apenas a partir da ideia fusional que é aglutinar atacado e varejo, ou seja, macro e micro, universal e local, natureza e cultura e toda essa família de dualismos que atormentam o mundo ocidental desde Platão. Nada disso resiste ao atacarejo e sua capacidade de síntese, sua captura do “zeitgeist” não apenas cearense, mas global, numa amostra viva de que pintar sua aldeia é cantar o mundo – ou seria o contrário? Já não sei, perdido que fico diante do sem número de perspectivas e da enormidade contida na ressonância da palavra, que sempre me atraiu desde que a ouvi pela primeira vez, encantado como pirilampo perto da luz, dardejado por flechas de amor – para Barthes a amorosidade é também uma gramática, com suas regras e termos, suas orações subordinadas ou coordenadas, seus termos integrantes ou acessórios e por aí vai. Mas é quase certo que Barthes não conhecesse atacarejo,...

O que é um leitor

O que é um leitor, afinal? Em termos de pesquisa, de Retratos de Leitura, desse gesto classificatório que abarca o país para definir a categoria em torno da qual não há consenso à vista seja na literatura, seja na sociologia ou noutras ciências vizinhas. Leitor é quem lê, mas quem lê é sempre leitor? Digo, o ato da leitura pressupõe algo mais que a leitura episódica de um trecho avulso de livro no curso de um ano? É leitor quem lê dez páginas de um romance de 150? Ou quem se aventura num quadrinho? Ou quem sempre desiste na metade da obra? Ler é obrigatoriamente ler literatura? Ler o jornal é uma modalidade de leitura válida para efeito de inclusão no rol de leitores dignos desse nome? Ler placas nas ruas, anúncios, ler as pichações, as inscrições, os verbetes que pululam nas propagandas, os spans que se intrometem entre um vídeo e outro? Ler as legendas de um vídeo também é já leitura? E quanto às mensagens que pipocam no WhatsApp? Não seriam muito frouxos todos esses critérios que s...