Experimentar e usar uma roupa que não é a sua, vestir essa roupa estranha e levá-la a passeio. Só uma vez fui a um brechó. Pouco antes de viajar, precisava de uma camisa de frio, uma que se parecesse comigo, que fosse minha e estivesse de acordo com meu tamanho. Não encontrei. Eram ou largas demais ou muito curtas, nenhuma me cabia, nenhuma ao agrado. Mas levei uma blusa assim mesmo. Em casa deixei no guarda-roupa para que fosse tomando o gosto das outras roupas, todas velhas, todas compradas cinco ou mais anos antes. Como esta camisa preta de mangas longas que uso agora. Está cinza e se descostura em alguns pontos, mas já foi muito escura e tinha cheiro de novidade. Era bonita, gostava de vesti-la quase sempre, muita gente dizia que ficava bem e era assim que me sentia ao usá-la. Desgastou-se, ficou como velha e já não combina com os ambientes fora da casa. Quando saímos, dizem que é uma roupa surrada, fazem chacota. Dizem: convém não estar assim tão desleixado
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)