Achava que por ter sido bom continuaria sendo indefinidamente, no que incorria em erro severo, nem tudo que parece é, disse repetindo a frase predileta da mãe, uma enfermeira que tinha passado quinze anos casada e outros sete namorando o seu pai, o dele, e, já muito tempo depois da separação, depois mesmo de três filhos que não eram os mais lindos mas eram os seus, os dela, apanhava-se na cozinha considerando o que fizera durante a vida, por que afinal de contas não pediu educadamente logo à primeira vez, logo quando tudo lhe pareceu inequivocamente sem futuro: “Por favor, Marcelo, queira retirar-se desta casa e nunca mais aparecer na minha vida.” Contudo não era melancolia o que alimentava, dizia enquanto retorcia os nós dos dedos. Era uma questão de matemática, quero saber por que passei tanto tempo sem entender que o amor assim como os valores da conta de energia e as marcas de bronzeado se transforma e atravessa extensos encanamentos, quero finalmente poder ilustrar a única mutação
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)