Houve um tempo em que eu podia falar sobre a gratuidade quando desejasse e de maneira até mais espontânea. Hoje é diferente, claro, e a espontaneidade vai ficando mais calculada. Até que a aparência calculada se confunde totalmente com o gesto gratuito. Não sei se o nome disso é cinismo nem se de fato designa uma prática desagradável. Talvez não seja, e calcular e agir correspondam às duas faces da mesma moeda. A gratuidade, essa qualidade que admiro cada dia mais, não se encerra depois do ponto final. Dizer que qualquer história segue depois do ponto final é um clichezinho, eu sei, mas é que com o gratuito isso acontece de verdade. É fácil identificar os modos do gratuito. Continuidade desinteressada, ausência de pequenas intervenções projetadas dias ou até meses antes do ato. Mas o que é o gratuito? É tudo que dispensa obrigações, explicações, salamaleques – o não gratuito é, portanto, tudo que exige uma porção extra grande de energia e paciência, mesuras, protocolos e
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)